domingo, 10 de agosto de 2025

Amanhecer

 Hoje me deu vontade de rasgar o dia com as unhas.

Não pela raiva, mas pela fome.

Fome de algo que não sei nomear, mas que reconheceria no instante em que tocasse minha pele.

Ando cansada dessa delicadeza ensaiada, dessa postura que sorri para não assustar.

Eu não nasci para caber na mão de ninguém.

Quero ser incêndio. Quero ser o risco que se corre ao acender o fósforo.

As pessoas gostam de pensar que me entendem. É quase engraçado — o que elas veem é o contorno, não o sangue que pulsa.

E eu deixo.

Porque o que é meu de verdade não é para ser explicado, é para ser sentido.

Ou queimado.

Hoje decidi que não vou mais pedir licença para existir.

Se for para entrar, que eu arrombe.

E se for para ficar, que eu ocupe até transbordar.

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